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Foto do escritorDeborah CN

“Espelho, espelho meu, será que o corpo dela é mais belo do que o meu?”




Ao longo dos séculos, a visão acerca do retrato do corpo humano sofreu modificações, principalmente ao que se refere do feminino. Os padrões de beleza foram se (re)inventando e estereótipos foram se consolidando, onde em uma sociedade machista, a objetificação do corpo e a cobrança pelas mulheres seguirem o estereótipo de corpo perfeito acarretaram em diversas consequências físicas e emocionais nas mesmas.

Na atualidade, a sociedade com adendo da tecnologia, uso de filtros que promovem mudanças corporais e cirurgias plásticas "instantâneas" e troca de informações em um curto espaço de tempo, tais questões do corpo feminino e dos padrões sociais aos quais querem impô-las reverberam nas redes sociais virtuais influenciando a sociedade como um todo, independente da faixa etária e sexo. É importante falar sobre esta temática, embora os homens também sofram por esta normatização do corpo considerado aceito pela sociedade, as mulheres ainda são os sujeitos quem mais sofrem com esta pressão do corpo perfeito, com diferenças e particularidades referentes a classe social, idade e etnia, que não irei abordar nesse texto. Deste modo, problematizar a questão da corporalidade feminina e na comunicação instantânea do mundo contemporâneo que a todo instante é determinado novos padrões de belezas e estereótipos, é refletir a ideia de que há uma indústria de consumo por trás desta padronização no qual visa incentivar a constante insatisfação com o corpo, pois a aquisição de determinados consumos irá levar a normatização de um corpo socialmente aceito e fará o sujeito se sentir pertencente a esta sociedade.(TRINCA, 2008) Assim, tendo em vista que, em busca de se encaixar num padrão de um corpo socialmente aceito, as mulheres se submetem a dietas rígidas, passam fome, fazem cirurgias plásticas, tomam remédios para emagrecer sem prescrição médica, viram reféns de segredos de beleza milagrosos, entre outras questões. Por tais questões, acabam por comprometer a sua saúde física, social e emocional ao desenvolverem transtornos alimentares, sofrem discriminações, autoestima baixa, problemas de saúde (déficits de vitaminas, maul funcionamento dos órgãos,etc) entre outras questões. A ideia aqui também não é demonizar as cirurgias plásticas, mas promover uma reflexão e autoaceitação do corpo, visando sempre o bem estar físico e emocional. Tomar a decisão de fazer uma cirurgia plástica é algo importante e precisa ser vista em todas as ópticas.

Mas talvez você esteja se perguntando se o corpo aceito hoje em dia foi sempre esse? E Eu lhe digo que NÃO! No decorrer do desenvolvimento do ser humano, o espectro acerca do corpo humano passou por modificações, principalmente ao que se refere ao do feminino e as novas visões estéticas sobre ele.

O perfil do corpo feminino passou ao longo do tempo por diversos modelos considerados referências para o padrão de beleza para cada época vigente. Tais referências tiveram influências do reflexo das questões políticas, econômicas, sociais e religiosas condizentes com cada período Histórico. Assim, segundo Butler (2015, p.15):

Antes, ser um corpo é estar exposto a uma modelagem e a uma forma social, e isso é o que faz da ontologia do corpo uma ontologia sócia. Em outras palavras, o copo está exposto a forças articuladas social e politicamente, bem como a exigências de sociabilidade- incluindo a linguagem, o trabalho e o desejo-, que tornam a subsistência e a prosperidade do corpo possíveis.


De acordo com Melani apud Trinca (2008), o corpo, dentre outras questões que compõem a sociedade, se tornou mais um advento do capitalismo e da sociedade pós-moderna, onde o incentivo à insatisfação corporal como um todo estabelecido acarreta na ideia do corpo como mercadoria, ou seja,

a produção capitalista necessita vender sempre um ideal inalcançável de beleza, felicidade, conforto, bem-estar e satisfação, o que favorece e amplia as possibilidades de produzir maiores quantidades e qualidades de tipos diferentes de mercadorias, símbolos e valores, visto que, quanto mais inalcançável for o padrão maior será o número de produtos, mercadorias e serviços que serão ofertados (estratégia de “ampliação” de vitrinas e prateleiras). Portanto, se o padrão de felicidade relacionado ao ideal de beleza, juventude e saúde fosse facilmente atingido, inviabilizaria a própria indústria da beleza e da moda, ou melhor, o consumo como um todo, especialmente no que tange a construção da aparência física.” (TRINCA, 2008, p.52-53)


De acordo com SANT’ANNA( 2005,p.06) baseada nas Ideias de Focault,

Nesta nova ordem aprofunda-se uma tendência existente na ordem político-jurídica que é a de transformar todas as partes do corpo em imagens de marca e num marketing privilegiado do eu. Por conseguinte, o desejo de investir nas imagens corporais torna-se proporcional à vontade de criar para si um corpo inteiramente pronto para ser filmado, fotografado, em suma, visto e admirado. Como Deleuze já havia escrito, o marketing é o instrumento de controle social da época atual. Por conseguinte, [p.107] há, aqui, uma espécie de totalitarismo fotogênico banalizado:1 exige-se que tudo no corpo seja preparado para ser visto, exposto, colocado em pose: até mesmo o que é considerado avesso à toda a pose e à toda exposição começa a ser coagido a aparecer e a sofrer um processo de "rostificação" acelerado. A imposição das imagens rostificadas, tal qual havia sublinhado Deleuze e Guattari, somada à banalização assustadora de imagens de corpos que parecem impermeáveis às marcas do tempo e aos problemas cotidianos, pode transformar em certeza a impressão de que é impossível passar despercebido. E pode, sobretudo, tornar indesejável o devir clandestino e fazer do marketing da rostificação uma solução inevitável.


Embora na atualidade, muito lentamente as propagandas veem utilizando modelos com padrões de corpos e beleza diferentes, visando a visibilidade e autoidentificação dos(as) consumidores, na grande maioria das redes sociais virtuais e propagandas, vende-se uma vida ilusória em que para alcançar um ideal de felicidade, você precisa ter um determinado padrão de corpo, acarretando muitas vezes na propagação de incentivo as pessoas, principalmente as mulheres a odiarem seus corpos e se submeterem a qualquer sacrifício para atingir este padrão de beleza, violentado-as na saúde física e mental, assim como também as afeta na questão de Ser no mundo, enquanto o que ela se idealiza e se projeta no mundo no que se refere ao que Sartre chama de projeto de vida.

Segundo a Schneider (2011), a objetividade que alcançamos ocorre da minha relação com o outro, ou seja, onde quer que eu esteja e me torne um objeto, o outro estará perante a mim. Tal objetividade é vivenciada por meio da alienação, “quando meu ser escapa de mim e fica em poder dos outros, (...) é quando o olhar do outro modela o me corpo, o meu ser; sou possuído por ele, pois este detém o segredo do que sou.” (SCHNEIDER,2011,p149). Desta forma, pode-se afirmar que a alienação, segundo a Schneider (2011) é usar da liberdade que tenho para permitir que os outros, enquanto sujeitos, escolham por mim. Assim, percebe-se que a relação do padrão do corpo feminino dito pela sociedade, aliena a quem sucumbi a entrar nesta lógica, possibilitar que o outro escolha por mim, a melhor maneira a qual relaciono com o meu corpo, de tal maneira que esta alienação atravessa o sujeito sem permitir que haja uma autorreflexão das consequências de se eximir da responsabilidade da escolha realizada por contra própria. Responsabilizo o outro por esta escolha, no que diz respeito a ele dizer o que deve ou não ser feito para atingir o corpo perfeito, sem questionar a metodologia e os riscos que se submete ao corpo a ilusão de padrão perfeito e de felicidade se tal objetivo for alcançado.

Você já deve ter lido inúmeras vezes quando alguma celebridade emagrece ou engorda, como as pessoas comentam sobre isso, entre elogios e principalmente julgamentos e comentários maldosos e xingamentos. Acaba acontecendo o famoso “ body shaming” (termo em inglês que significa vergonha do corpo). Ao mesmo tempo que algumas celebridades pesam a mão em programas de edições de fotos que acabam sempre por corrigir imperfeições e aparentar uma “perfeição” que não existe, mas que faz com que muita gente acabe por se comparar e começar a ficar uma pessoa insatisfeita com o seu corpo.

Então, você pode me perguntar: Como posso lidar com isso? Existe uma fórmula rápida e fácil para aprender a lidar com essas pressões estéticas? E eu lhe digo: Não! Essa mudança vem pela melhora na autoestima, por consequência do autoconhecimento. Assim, ao olhar-se no espelho não questione “ Espelho, espelho meu, será que o corpo dela é mais belo que o meu?” mas sim, comece a se olhar com afeto e reconhecer as suas qualidades e não se reconhecer somente por aquilo que você não gosta em você. Você é uma pessoa única e não se compare a ninguém! E se for para questionar, faça as seguintes perguntas: Por que devo competir com outra mulher para ter o corpo mais belo que ela? Por que devo dar poder aos outros, em dizer como deve ser o meu corpo?

A psicoterapia pode auxiliar nesse processo de libertação em depender da validação das outras pessoas ou de sempre se comparar e seguir a ideia de “ a grama do vizinho é mais verde que a minha” e mostrar o caminho do autoconhecimento, desenvolver amor próprio e acima de TUDO, a busca do bem estar físico e emocional de maneira saudável.


REFERÊNCIAS:

BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Trad. de Sérgio Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha. Riode Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.


SANT’ANNA, Denise Bernuzzi. “Transformações do corpo: controle de si e uso dos prazeres”. In: RAGO, M.; ORLANDI, L. B. L.; VEIGA-NETO, A. (orgs.). Imagens de Foucault e Deleuze: ressonâncias nietzschianas. Rio de Janeiro: DP&A, 2005, p. 99-11.


SCHNEIDER, Daniela Ribeiro. Sartre e a psicologia clínica. Florianópolis, Ed. Da Ufsc, 2011.


SARTRE, Jean Paul. O Existencialismo é um humanismo. Petrópolis: Vozes, 2014. 4ªed. Apresentação e notas: Arlete Elkaim- Sarte.Tradução: João Batista Kreuch.


TRINCA, Tatiane Pacanaro. O corpo-imagem na “cultura do consumo”: uma análise histórico-social sobre a supremacia da aparência no capitalismo avançado. 2008.154p. Dissertação de Mestrado – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília, 2008. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/99271>.









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